Produtos da mangaba são destaque entre expositores do I Festival dos Povos do Cerrado

A mangaba, fruto típico goiano e abundante no Cerrado niquelandense, é uma das frutas nativas mais importantes da economia local. A partir dela, é possível obter polpas, sucos, doces, além do consumo in natura. De casca fina e polpa suculenta, a mangaba cai ao solo assim que amadurece. Por sua delicadeza, a colheita acontece quando o fruto ainda está “de vez”, ou seja, antes de atingir o ápice da maturação, para que se possa aproveitar melhor o ingrediente.

Depois de madura, a mangaba fermenta naturalmente, em um processo muito rápido, que acontece dentro de poucos dias. Tal característica despertou a atenção de Maria Serrano Ferreira, a Dona Mariinha, que há mais de 30 anos trabalha com licores de frutas do Cerrado. “A mangaba, a gente vai no Cerrado coletar, né? Porque tem o tempo próprio dela, que ela caiu e já acabou. Então você tem que estar atento, se não você nem encontra”, explica. Ela é a mentora por trás do Licor Caipira, marca de bebidas alcoólicas à base frutas típicas da região, e que representa o município de Niquelândia em feiras por todo o Estado.

Dona Mariinha explica que, apesar de a mangaba e a produção de seus derivados serem abundantes na cidade, apenas ela topou a missão de desenvolver a bebida, labor que encara com determinação há décadas. Orgulhosa, Mariinha conta que os licores vendidos na Festa da Mangaba, do Santuário de Muquém, é ela quem produz. Além dos licores que levam o rótulo de sua marca, ela também trabalha um segundo rótulo: o Licor Mangaba, lançado em 2023, através do Santuário e que agora faz parte dos produtos oficiais da tradicional festa ambiental e religiosa.

Oportunidades e desafios da mangaba

Além dela, outros expositores do I Festival dos Povos do Cerrado também trabalham com o fruto. Iramina Taveira dos Santos, da Associação Quilombola Vargem Grande Muquém (AQVM) é uma das produtoras familiares que encontrou na mangaba uma forma de sustento. “A gente tira a polpa para fazer sorvete, picolé, geladinha, fazer mousse. A gente faz até pudim de mangaba. Tudo que é do Cerrado a gente comercializa”, conta Iramina.

Mas nem sempre foi assim. Joelina Martins da Silva, a Jô da Sucata, conta que na infância havia uma crença popular de que a fruta “fazia mal com leite, com tudo”, e por isso seu consumo era limitado pelos pais das famílias. “A gente não aproveitava muito esse fruto. Depois, com a história dos padres que vieram para Niquelândia, o povo foi evoluindo e descobriu que a mangaba é muito rica. Ela tem muita vitamina, e com ela a gente consegue fazer muita coisa”, afirma, enquanto lista uma variedade sem fim de delicias que levam o fruto como ingrediente: doce, doce cristalizado, geleia de mangaba…

Os saberes dos povos tradicionais vão além: o leite da mangaba também pode ter propriedades medicinais, como nos conta Joelina. “O pessoal do interior usa muito o leite da mangaba para reumatismo e outras doenças. Então é uma fruta do Cerrado que é bastante valorizada”.

Generosa em compartilhar seus saberes, Jô ainda nos relata como é feita a coleta da fruta. “As pessoas que fazem a coleta dessa mangaba são moradores, são pessoas que moram ali na região do Muquém, pessoas também que moram nas fazendas e que já conhecem onde ela ocorre. Eles levam balaios da fruta, mas não colhem madura, porque ela cai do pé. A colheita é feita com o fruto verde, mas rapidinho ela amadurece”, explica,

A preservação das árvores mangabeiras também é uma preocupação de quem trabalha com o fruto. Jô faz um apelo para quem tem o pé em casa ou no campo, para que não corte, “porque além de estar tirando a sombra que ele fornece, você está matando uma coisa que pode beneficiar em muitos sentidos”, finaliza a presidente da Associação Acendendo Luzes, que é mantida por ela e pelo marido, oferecendo oficinas de música, artesanato e futsal para crianças em situação de vulnerabilidade social.

A mangaba no futuro sustentável do Cerrado

Reconhecendo a importância da mangaba, tanto para a economia local, como para a conservação do Cerrado, o Projeto Cerradão, iniciativa da Coopeag, já estuda a viabilização de uma agrofloresta com a utilização de frutíferas nativas. O projeto prevê a restauração de 200 hectares de áreas degradadas no município de Niquelândia, dos quais 50 hectares serão destinados à agrofloresta.

“Vamos fazer uma agrofloresta com frutíferas nativas do Cerrado, como a mangaba, que é uma planta que tem um forte potencial no extrativismo, é uma planta culturalmente conhecida aqui no município de Niquelândia, e também outras frutíferas do Cerrado, como o baru, caju e cagaita também”, explica a cooperativista Rhyllary Coelho.

A Coopeag já trabalha com a produção da polpa congelada da mangaba. Ingrediente este que é indispensável para Gisele Vanuncio, empresária e proprietária do Tilapa’s Gastronomia. O restaurante está lançando no I Festival dos Povos do Cerrado um drink à base da mangaba, e que extrai todo o seu sabor das polpas produzidas pela Cooperativa Agroecológica dos Produtores Familiares de Niquelândia.

“É um prazer enorme poder contribuir com esse evento tão maravilhoso que está sendo o I Festival dos Povos do Cerrado. E desenvolvemos um drink, especialmente para esse festival, um drink do fruto do Cerrado que é a mangaba. A gente fez uma releitura do Morrito, que vai com hortelã, rum, gelo e o rum bacardi”, comemora a empreendedora, que confirma o sucesso de vendas da bebida.

O I Festival dos Povos do Cerrado vai até a noite deste sábado (10), com palestras e oficinas ao longo do dia, apresentações culturais e shows de artistas locais à partir das 18h, além da feira de exposições dos produtores familiares e associações. Apresentam-se hoje Marcos Pontes e Tiaguinho Sanfoneiro, Miguelzinho dos Teclados e Adriana, Duda Faustino, Renato Caio e Banda, Batuque de Santa Efigênia e Thery Xavante.

(fotos: Khryst Serpa)

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