Onça pintada em 1918

Filme raro sobre o Rio Amazonas é encontrado na Europa após um século

Produzido em 1920, documentário brasileiro recuperado na República Tcheca mostra imagens inéditas da Amazônia.

Castanha-do-pará

“Amazonas, o Maior Rio do Mundo” é um filme brasileiro produzido no início do século XX. Considerado desaparecido desde meados dos anos 1930, foi redescoberto graças a uma cópia preservada no Arquivo Nacional de Cinema da República Tcheca. A obra foi disponibilizada pela Cinemateca Brasileira em 2023. Ao fim desse texto, você pode conferir o filme completo, disponibilizado no Youtube pelo canal Antiquário Manaós.

“Amazonas, o rio mais poderoso do mundo, atravessa a América do Sul desde o Oceano Pacífico até o Atlântico. Com quase 6 mil quilômetros de extensão, sua foz chega a ter 52 quilômetros de largura”, informa o letreiro do filme, que tem 66 minutos de duração e percorre cidades como Belém, Manaus e Santarém. Produzido por Silvino Santos, o filme começou a ser feito em 1918 e foi concluído apenas em 1920. É considerado um dos primeiros registros cinematográficos do Rio Amazonas.

Manaus no início do século XX

A obra apresenta ao mundo os mais variados aspectos da vida ao redor do rio: a impressionante diversidade de fauna e flora; a população humana, distribuída entre grandes cidades e pequenas comunidades, com diferentes níveis de influência da cultura europeia introduzida no século XV. Algumas dessas comunidades ainda preservam fortes traços do que existia no território brasileiro antes da chegada dos navios portugueses.

A dinâmica entre o rio e seus habitantes é tão poderosa que, em determinados períodos do ano, casas flutuantes se tornam morada de populações ribeirinhas, afastadas da terra firme. Essa tecnologia foi criada como forma de adaptação às cheias furiosas e aos alagamentos frequentes do Amazonas.

Árvore que chora

O filme também registra rochas com inscrições antigas, visíveis durante a maré baixa, reforçando estudos recentes que sugerem a presença ativa de humanos na construção e manutenção da Floresta Amazônica.

Inscrições pré-colombianas reveladas com a maré baixa do Amazonas

É possível observar como tecnologias sofisticadas, como o uso do látex, já existiam antes da colonização europeia — revelando a organicidade de sociedades que habitavam o Brasil antes do século XV, plenamente conscientes de sua relação com o rio. Suas “indústrias” eram pensadas com foco na preservação do ecossistema e, por consequência, na sobrevivência das populações que dele dependiam. Assim, essas sociedades permaneceram por milênios sem enfrentar problemas modernos como a poluição causada pelo plástico.

O látex era utilizado, por exemplo, na confecção de utensílios domésticos e na impermeabilização de tecidos, muito antes de ser explorado comercialmente na fabricação de pneus — sim, os indígenas possuíam tupperwares ecológicas.

Látex

O manejo florestal praticado pelas primeiras populações da Amazônia também foi responsável pelo desenvolvimento de produtos como a castanha-do-pará, usada como alimento, remédio e artefato ritual, simbolizando a conexão com o divino.

A carne

A ferocidade da vida selvagem é exposta de forma crua no filme: jacarés espreitam à beira do rio; uma onça-pintada dilacera uma ave como refeição. Em contraste, o peixe-boi — “inofensivo e que se alimenta de grama”, segundo o letreiro — é caçado com enormes lanças.

Peixe-boi caçado às margens do Rio
Coletor de castanhas alimenta seus cães com os frutos

Assista ao filme completo, visitando o canal Antiquário Manaós:

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